sexta-feira, 29 de julho de 2011

Nos vales do Rio Jordão

Fora do roteiro convencional do Oriente Médio, a Jordânia oferece, na mesma viagem, experiências históricas, culturais, religiosas e de aventura.
Dificilmente a Jordânia estará na lista dos lugares mais convencionais que devem ser visitados. É possível citar pelo menos dez destinos mais comuns, que perderiam fácil em popularidade entre os viajantes. Mas quando o que está em jogo é o potencial de exploração e diversidade de roteiros, o país  está no páreo. E pode ganhar fácil a disputa pela preferência do turista.

O visto jordaniano pode ser obtido diretamente no aeroporto, na chegada ao país. Custa 20 JOD (o equivalente a US$ 30). Se a viagem for contratada por uma operadora local para grupos acima de três pessoas, o visto é gratuito. Quem quer sair do Brasil já com a autorização de entrada pode fazer a solicitação no consulado da Jordânia, em São Paulo. O visto sai em 24 horas.

O que levar

O clima na Jordânia tem estações bem definidas, ainda que o país tenha características diferentes dependendo da região. A bagagem precisa ser variada.

No corpo: roupas confortáveis são obrigatórias em toda viagem, ainda mais nas que vão exigir caminhadas, como em Jerash e Petra. Bermudas e camisetas leves – de preferência com mangas, por causa do sol – já ajudam a driblar o calor.

Nos pés: tênis serão os melhores companheiros para cruzar pisos de pedras irregulares. No deserto, chinelos de dedo não deixam os pés afundarem na areia (habilidade nata dos dromedários).

Na cabeça: bonés, chapéus e até lenços ajudam a proteger do sol, que pode passar dos 40ºC no verão. Acorde cedo para visitar as atrações antes do calor apertar.

Na pele: filtro solar acima de 30, sempre. Exceção no Mar Morto, onde os 425 metros abaixo do nível do mar reduz a incidência de raios ultravioletas e fica menos prejudicial à pele. Mas só até fazer o banho de lama. Depois, convém reforçar a proteção.

Na mochila: água potável vai ser indispensável. Mantenha a sua garrafa cheia, sempre com água mineral. Não é aconselhável usar a de torneira nem para higiene bucal.

Na mala: peças leves para suportar o calor durante o dia e malhas para o frio do início da noite. No verão, um xale resolve na hora do jantar. As temperaturas no inverno são mais rigorosas.

Encravado no coração do Oriente Médio, pertence ao mundo árabe – faz divisa com Síria, Iraque, Egito, Israel e Arábia Saudita – e, apesar dos vizinhos nervosos, desfruta de segurança civil e tranquilidade em campos e centros urbanos. É um dos países mulçumanos mais abertos à cultura ocidental, ainda que a tradição e a religião cubram a cabeça das mulheres com lenços multicoloridos – e os homens se admirem com a figura feminina estrangeira mais exposta do que as de suas conterrâneas. Os olhares são inevitáveis, tanto de homens quanto de mulheres, mas há pouco risco de assédio agressivo. Pelo contrário, a população é amável, receptiva e sempre disposta a receber e conversar com o forasteiro. Andanças solitárias devem ser evitadas por outros motivos: a sinalização quase sempre é em árabe e muitas vezes é preciso orientação para acertar o caminho entre uma cidade e outra. A companhia de um guia vai ajudar a compreender melhor a importância dos locais turísticos preservados, principalmente quanto às referências de um lugar onde toda pedrinha encontrada parece ter milênios de história para contar. Uma boa leitura nos livros do Antigo Testamento também vai dar a bagagem necessária para compreender a grandeza das ruínas e do patrimônio turístico jordaniano.

A moeda local é forte. Um dinar jordaniano (JOD) tem quase a cotação de um euro (R$ 2,22) e vale US$ 1,50, na conta dos comerciantes locais. A conversão oficial está em US$ 1 = JOD 0,70. Um perigo para quem se encanta com as peças decorativas de metal e pedras, túnicas e lenços, expostos em todas as lojinhas, até nas esquecidas no meio do deserto de Wadi Rum.

A regra da pechincha é imperativa: nenhum comerciante árabe gosta de entregar a mercadoria no primeiro preço. Por isso, jogam o valor para o alto. Mesmo que não pareça caro e caiba no orçamento, peça desconto. Devolva o produto, junte outro para conseguir mais vantagem na compra, peça um presente. E mande um “last price” para tirar do vendedor o melhor preço daquilo que você, realmente, tem intenção de levar. A arte da pechincha pode ser uma diversão à parte. A discussão tem jeito de briga e costuma chamar a atenção dos vizinhos. Árabes falam alto e com boa entonação. O inglês é o segundo idioma local, mas é inevitável ouvir palavras em árabe no calor da discussão.

Pluralidade

Talvez o maior atrativo da Jordânia seja a possibilidade de fazer várias viagens em uma. Há roteiros místicos, históricos, culturais, de aventura, religiosos, de bem-estar e gastronômicos. Os deslocamentos são feitos de carro ou micro-ônibus e as paisagens nas pequenas viagens entre as cidades turísticas já são uma experiência à parte: é possível ver acampamentos de beduínos, dromedários cruzando o deserto, o Mar Morto desenhado no horizonte. O que parece inóspito guarda vida e beleza.

Mas prepare-se para as altas temperaturas. O calor chega a 40ºC no verão. Além da garrafa de água obrigatória no “kit turista”, programe-se para acordar cedo e visitar as atrações turísticas nas primeiras horas da manhã. O desconforto com o sol escaldante vai ser menor.

Jerash

Jerash é o segundo conjunto de ruínas históricas que mais atrai visitantes na Jordânia, depois de Petra. A cidade, conquistada pelo General Pompeu em 63 a.C., teve sua era dourada durante o domínio romano. Ficou séculos escondida na areia. As escavações e restaurações de portais, ruas de colunatas e pavimentadas, templos, teatros, arenas e praças públicas foram feitas nos últimos 70 anos. É o conjunto arquitetônico romano mais bem preservado fora de Roma, toda construída com pedras de limestone. O arco de Adriano, na entrada, o hipódromo, a catedral, a Cardo Street (rua principal da cidade) e os teatros são os conjuntos mais expressivos.

O lugar é palco de um festival de verão, realizado em julho, quando são exibidas apresentações folclóricas, musicais e concertos. Durante o restante do ano, duas encenações diárias da rotina dos gladiadores mostram aos turistas um pouco da vida da população que habitou o lugar. O histórico da ocupação humana na cidade remonta a 6,5 mil anos. O espetáculo, de uma hora de duração, termina com uma corrida de bigas.

Serviço:

Jerash, entrada 8 JOD (U$ 12), das 8 às 18h (verão) e até as 16 horas (inverno). Apresentação dos gladiadores às 11h15 e 14h30, incluídos no ingresso.

Aqaba

Muito perto de Wadi Rum fica Aqaba, no Sul do país. E se no deserto as atrações são de areia e pedra, ali, o que há de mais belo para ver está sob as águas do Mar Vermelho. Os conjuntos de corais e a variedade da fauna e da flora marinha, abundantes pelo clima temperado, estão muito próximos à costa. É fácil observar com snorkel partindo das praias ou a bordo de uma embarcação, onde a navegação e o almoço estão incluídos no preço do passeio.

A região é um ponto importante de trânsito marítimo e terrestre entre a Europa, Ásia e África há mais de 5 mil anos e desempenha esse papel também nos dias de hoje. Na rotina urbana, a cidade de Aqaba permite boas compras no suik (mercado) local, com preços melhores do que os praticados em outros lugares. Tapetes, objetos de decoração, sementes e especiarias são expostos nas calçadas. Os preços são mais baixos porque a cidade está na zona livre de comércio, sem cobrança de taxas.

Serviço:

Snorkel e almoço embarcado, média de US$ 50 por pessoa. É possível contratar o serviço no píer.

Dana

Esqueça o conceito tropical de reserva natural, com cenários verdes e úmidos. Áreas de natureza preservada no deserto conservam seu aspecto mais marcante: a aridez. À primeira vista, o panorama empoeirado não corresponde à imagem convencional de uma reserva ambiental. Mas os vales e montanhas pontilhados de verde, em uma área de 308 km2, fazem da Reserva Natural de Dana o habitat de vida selvagem diversa, que inclui espécies raras de plantas (600 espécies) e animais (37 de mamíferos e 190 de pássaros).

O local é ideal para a prática do ecoturismo e o turismo de aventura, como camping, trekking, tours de jipe 4x4 e escaladas para contemplação da natureza. Quem visita a reserva também conhece os vilarejos de Dana, povoados antigos que começam a ser reocupados por incentivo público para vitaminar o turismo. Aos poucos, pousadas rústicas vão sendo montadas nas antigas casas de pedra do vilarejo. Outra opção de hospedagem é no centro de visitantes do governo, com acomodações para até quatro pessoas no mesmo quarto, com banheiro coletivo.

Serviço:

Centro de Visitantes da Reserva de Dana. Fone: +06232270497

Aman

Com 2 milhões de habitantes – um terço de toda a população do país – a capital da Jordânia é conhecida como a Cidade Branca. Isso por causa do tom da pedra limestone, usada nas edificações desde os primeiros registros de ocupação urbana na área. Resistente e com propriedades de conforto térmico – mantém a temperatura adequada, conforme a estação –, a matéria-prima usada nas construções é cara: de 10 a 20 JOD o metro quadrado. Quem não pode arcar com a pedra, pinta de branco para imitar o tom usado nas casas mais luxuosas. É uma forma de driblar a legislação municipal que prevê o revestimento em limestone em todas as edificações.

Ainda em Aman é possível visitar a Cidadel, na parte velha da cidade, onde são preservadas construções romanas e bizantinas, nos primeiros registros de ocupação islâmica na região. No período greco-romano, Aman era conhecida como Filadélfia. A capital é um dos centros urbanos mais antigos do mundo, permanentemente habitado. A cidade velha fica na parte alta da área urbana. Ícones da arquitetura romana, como colunas gigantes, fazem parte do conjunto. No local ainda há o Museu Arqueológico da Jordânia.

Serviço:

Cidadel. Centro de visitantes, das 8 às 18h (verão) ou 16 horas (inverno). Entrada 1 JOD.

Madaba

A 30 quilômetros de Aman pela Rodovia do Rei, estrada pavimentada sobre um caminho aberto há mais de 5 mil anos, está Madaba. A cidade dos mosaicos, elaborados com pedras coloridas naturais encontradas na região, é um dos principais sítios arqueológicos da Jordânia. O mosaico mais expressivo é o Mapa de Jerusalém e da Terra Santa, com dois milhões de peças. Parte dele cobre o chão da Igreja Grega Ortodoxa de São Jorge, construída em 1896.

Na mesma região está o Monte Nebu, local onde Moisés teria sido enterrado e de onde ele avistou a Terra Santa, quando fugia com os hebreus do Egito. Lugar de peregrinação cristã, também marcado pela localização de mosaicos remanescentes dos séculos 5 a 7.

Na mesma região de Madaba há ainda Hot Springs, um complexo de cachoeiras de águas termais naturais, a 236 metros abaixo do nível do mar. A estrada sinuosa que leva às quedas d’água contorna parte do perímetro do Mar Morto. As cachoeiras jorram águas quentes, entre 45 e 60ºC, e são usadas para terapias relaxantes e de bem-estar.

Serviço:

Monte Nebu. Estrada do Rei, Madaba, 1 JOD. Das 8 às 18 horas (verão) ou até as 16 horas (inverno).

Petra

A grandiosidade de Petra é revelada a cada fresta descoberta na caminhada. A cidade perdida dos nabateus, que ficou por 700 anos escondida da humanidade, é um exemplo de engenharia e também um lugar místico. Foi redescoberta em 1812 pelo viajante suíço Johann Ludwig Burckhardt, que conseguiu entrar no local fortemente guardado ao fingir que era um árabe da Índia que queria fazer um sacrifício no túmulo do Profeta Aarão. As edificações, escavadas no arenito, mostram a sabedoria de um povo que aprendeu a usar a natureza do deserto. Reservatórios de água estrategicamente distribuídos garantiam aos nabateus o abastecimento necessário na época de seca e a armazenagem adequada nas cheias, evitando inundações. O trânsito dos povos mercantilistas também está registrado nas encostas de Petra: são inúmeras tumbas, túmulos e templos de adoração e sacrifício, esculpidos com influências gregas, romanas e até indianas.

A característica misteriosa de Petra pode ser vivenciada na visita noturna. O Petra By Night leva o turista por caminhos iluminados por velas – por cerca de 1,5 km – até o Tesouro, um dos templos mais expressivos. Ao chegar, todos são convidados a sentar para contemplar o céu e o silêncio, quebrado pelo som da flauta.

Durante o dia, o mesmo caminho torna-se inédito diante das cores que as pedras, ricas em ferro, refletem com o sol. Os tons de rosa mudam de acordo com o horário do dia e da época do ano. A caminhada não é fácil, ainda mais sob um calor de 40ºC. Quem quiser, pode optar pelo riquixá (espécie de charrete) até o Tesouro e, a partir dali, de dromedário ou burrico, até o restaurante no fim da trilha. Há ainda muitos outros caminhos para explorar Petra, que exigem mais de um dia de visita. Barracas de beduínos no trajeto ajudam aliviar o cansaço, à base de chá quente ou água mineral.

Petra Kitchen

Mas nem só de ruínas históricas vive Petra. Lá é possível preparar o próprio jantar árabe, seguindo as orientações de chefs e auxiliares bem-humorados e brincalhões. Trinta pessoas de faca na mão, avental pendurado no pescoço e muita curiosidade fazem do Petra Kitchen uma das experiências mais divertidas na cidade. O babaganush – patê de berinjela – tem outro sabor quando feito em turma e pelas próprias mãos. Orientados no corte dos ingredientes e no uso dos temperos, o turista aprende também a servir a mesa, distribuindo as porções. São duas horas de diversão garantida.

Serviço:

Petra by Night, saída às 20h30, 12 JOD por pessoa.

Ruínas de Petra, das 8 às 18 horas (verão) e 16 horas (inverno). 50 JOD por pessoa, para um dia de visita, com passeio a cavalo incluído.

Petra Kitchen. US$ 50 por pessoa.
www.petrakitchen.com.

Rio Jordão

Um dos locais religiosos de maior significado na Jordânia, a região da Betânia do Além Jordão, onde João Batista teria batizado Jesus Cristo, fica próxima ao Mar Morto. Peregrinos de diferentes crenças cristãs passam pelo lugar, onde foram encontrados diversos registros arqueológicos dos ritos sagrados citados na Bíblia.

O local de batismo de Jesus é ponto de discussão entre os países cortados pelo Rio Jordão. Tanto na Jordânia como em Israel, peregrinos podem cumprir o ritual em áreas especialmente construídas para isso. No lado jordaniano, mais rústico, uma túnica branca é vendida por US$ 20 para que o visitante seja batizado no córrego em que o Jordão se transformou. Nas margens do rio, o lugar de contemplação e reflexão é cortado por caminhos – perfumados com o cheiro doce de tamareiras, plantadas ao longo do trajeto – que levam às diferentes igrejas, construídas no local em homenagem ao batismo de Cristo.

Serviço:

Bethânia Além do Jordão. Das 8 às 18h (verão) e 16h (inverno). Entrada 12 JOD (para estrangeiros não-árabes).

Wadi Rum

Tombado pela Unesco como patrimônio natural da humanidade há menos de um mês, o deserto de Wadi Rum oferece experiências únicas. Formações rochosas imensas – de até 1.750 metros de altura – deixam a paisagem com aspecto lunar, ao menos no relevo. Porque é o sol que o pinta de cores intensas: amarelos e vermelhos em diferentes tons, que mudam de acordo com o jogo de luz e sombra.

A exploração do deserto pode ser feita pelo ar ou por terra. Passeios de balão ou de dromedário levam o turista pelo território imortalizado no filme Lawrence da Arábia, que conta a história de T.E. Lawrence na Revolta Árabe contra os otomanos. Ainda é possível conhecer o deserto em caminhadas, escaladas e passeios de jipe.

Para encerrar a experiência beduína é preciso passar a noite em um autêntico acampamento do povo nômade do deserto. Ali o visitante vai dormir em barracas iluminadas por velas e lâmpadas que são desligadas às 23h30, observar a Via Láctea e a Lua em um céu limpo e participar de um típico jantar árabe com zarb, carneiro assado no buraco, no cardápio.

Serviço:

Capitan Desert Camp. Diárias a US$ 50 por pessoa, com café da manhã e jantar. Passeio de dromedário, 15 JOD por pessoa. Passeio de jipe, de 45 a 60 JOD por grupos de 4 a 6 pessoas.

Mar Morto

O roteiro histórico se confunde com o de bem-estar nas praias do Mar Morto. As propriedades terapêuticas da lama e da água do reservatório de 80 quilômetros de comprimento por 14 de largura, com salinidade 10 vezes maior do que o normal e sem nenhuma vida possível em seu leito, estão presentes em cosméticos que rodam o mundo. O ponto de água e muito sal fica a 425 metros abaixo do nível do mar e diminui 30 centímetros por ano. Cientistas preveem que o Mar Morto esteja seco em 2050. Enquanto isso, turistas estrangeiros e nativos procuram suas águas relaxantes, em praias públicas ou nas áreas exclusivas dos hotéis de alto luxo.

Tomar banho de mar ali parece sem graça: por causa da salinidade, é impossível mergulhar, nadar ou brincar na água. Em contato com a pele ferida ou mucosas (boca e olhos), a água extremamente salgada provoca ardência. Mas o grande barato ali é boiar, a única atividade possível.

O banho de beleza segue um ritual: primeiro o banho de mar, depois a lama negra, que deve ser retirada com a água salgada de novo. Antes do tratamento, evite usar protetor solar ou cremes hidratantes, para que a pele absorva os minerais da água e da lama. Depois de passar pelo Mar Morto, uma chuveirada de água doce evita ressecamento da pele.

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