O Departamento de Tesouro, que é o Ministério da Fazenda dos Estados Unidos, vai detalhar o que fará com os 100 milhões de cheques que emite todos os meses se o Congresso não aumentar o teto de endividamento público, e isso vai abrir a cortina de um plano mantido em segredo e que pode ter consequências dramáticas para a economia, a nota de crédito dos EUA e a situação política do país.
O Federal Reserve, ou Fed, como é conhecido o banco central americano, deve ter um papel importante qualquer que seja o plano do Tesouro, mas já avisou que não tem ferramentas especiais para resgatar o governo. O Fed pode optar por tentar acalmar o mercado financeiro garantindo que os bancos tenham dinheiro para continuar operando. Executivos de Wall Street acreditam que o Tesouro vai reestruturar a maneira como paga suas contas, de modo que detentores de títulos de dívida, inclusive governos como o da China, tenham prioridade. Isso evitaria que o país ficasse inadimplente em seus títulos de dívida - algo que até a Grécia conseguiu evitar.
Terry Belton, diretor mundial de estratégia de renda fixa do J.P. Morgan Chase, disse acreditar que há "chance virtualmente zero" de uma moratória em títulos de dívida americana, mesmo se o teto da dívida não for ampliado até 2 de agosto.
"O Tesouro tem outras coisas disponíveis que são bastante nocivas, mas são melhores do que deixar de fazer um pagamento de juros", disse ele. Pagar detentores de títulos antes de beneficiários da Previdência, por exemplo, pode gerar ira política e levar a processos na Justiça e turbulência nos mercados, além de um possível rebaixamento da nota de crédito.
O governo está sob pressão de detentores de dívida, cidadãos idosos, parlamentares e outros grupos para detalhar como vai priorizar os pagamentos. Detalhar seus planos poderia ajudar o Tesouro a conter a crescente incerteza nos mercados financeiros quanto ao que pode acontecer na semana que vem, mas também poderia abrir espaço para críticas políticas e poderia deflagrar outro tipo de crise o que ele quer evitar.
O Centro Político Bipartidário, um centro de estudos de Washington, estima que o Tesouro vai ter um déficit de cerca de US$ 130 bilhões em agosto e provavelmente não terá o dinheiro para cobrir todas as suas obrigações.
Embora a Casa Branca tenha tido o cuidado de não divulgar seus planos, ela tem sugerido que há coisas que ela não faria depois de 2 de agosto. Por exemplo, autoridades do governo já disseram que Obama não invocaria a 14ª emenda da Constituição, que diz que o teto de endividamento é anticonstitucional. Eles também já disseram que não planejam vender as reservas de ouro do país ou ativos parecidos para levantar dinheiro rapidamente.
Autoridades de primeiro escalão do governo têm se reunido há semanas para traçar planos para operar depois de 2 de agosto, mas não divulgaram nenhuma de suas estratégias. Detalhes só circularam entre um grupo fechado de autoridades, entre elas o presidente Obama, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e um grupo de confidentes deste no ministério.
The Wall Street Journal
Comentário de Mario Rapoport e Noemí Brenta, autores do livro Las grandes crisis del capitalismo contemporáneo (sem tradução para o português).
Durante trinta anos, os Estados Unidos subsidiaram o crédito não apenas do aumento do consumo das famílias – que se endividaram enquanto caia sua renda e agora já não podem nem fazer frente aos seus passivos e tampouco continuar se endividando ou consumido –, como também de um aparato militar desmesurado em relação às demais potências mundiais que estende o seu poderio por todo o planeta para proteger os interesses estratégicos estadunidenses e de suas empresas e investimentos. Mas agora, o atoleiro da economia americana coloca em xeque o dólar como refúgio seguro.
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